Sem sal, sem tempero, sem sucesso.
Postado por Rhaiza Oliveira , sábado, 30 de junho de 2012 20:38
O belo sempre muda com o tempo. De corpos
rechonchudos até a ditadura da anorexia, a beleza é uma coisa tão subjetiva que
é até uma perda de tempo ficar olhando-se no espelho procurando aquela gordurinha
invisível, as espinhas que não param de aparecer ou ficar chateada com aquele
dedo do pé que é maior que o dedão.
Mas existe um tipo de ‘não beleza’, se assim
podemos dizer, que não chama a atenção, não encanta, e parece que vai sempre
passar despercebida: A mulher (ou o homem) sem sal. Sem graça, sem tempero, sem
sucesso no amor. Sem chance de chamar atenção ou ser notada. Insossa e tediosa.
Já que as mulheres são seres mais admirados,
falemos delas. Todos os dias vemos as propaganda de xampu, de absorvente ou de
margarina. Altas, esguias, cabelos esvoaçantes e vários homens virando suas
cabeças para admirar aquelas mulheres quase que impossíveis. Dá pra negar que
qualquer mulher normal se sentiria intimidada e quisesse ser assim? E com
certeza os seres do famigerado gênero masculinos dariam mundos e fundos para
ter uma chance com as lindas e ‘temperadas’ mulheres dos comerciais.
Mas o que falar da mulher comum? A que tem
problema com o cabelo, se queima com cera quente ao depilar-se, tropeça no meio
da rua tentando se equilibrar no salto agulha e ficam horas no salão tentando
chamar atenção de alguma maneira? Será que elas terão sua chance de mostrar que
podem sim ser tão encantadoras como as musas da televisão?
Peço uma chance para falar de mim. Eu uso
óculos desde os três anos de idade. Antes da chamada escova progressiva, eu
tive de aguentar apelidinhos não muito carinhosos em relação ao meu cabelo.
Talvez por isso eu tenha aprendido a disfarçar a tão comentada ‘beleza exótica’
que me foi concedida por Deus com uma técnica que talvez, agora refletindo um
pouco, tenha até mesmo me atrapalhado: o humor.
Piadinhas e comentários sarcásticos sempre me
foram uma arma poderosa para tentar não chamar a atenção para a minha altura e
minha capacidade incrível de tropeçar no meio da rua. Mas convenhamos: mulher
engraçada não é vista como bonita. Não adianta você ser engraçada ao ponto de
ser considerada apta para fazer stand up
comedy, ou até mesmo fazer aquele cara irresistível do bar da esquina rir
por horas com você. Tenha a certeza que depois que se recuperar da crise de
riso, ele vai levar pra casa aquela moça alta de batom vermelho e com fenda no
vestido.
Ser destinada a ser uma mulher sem sal é quase
uma tortura. Apesar de ficarmos completamente encantadas com aquele cara de
sorriso brilhante, até mesmo trocar uns beijinhos com o pretendente da noite,
depois de um tempo você passa a não se decepcionar mais quando não recebe
aquela ligação no dia seguinte ou não ouve mais notícias do rapaz depois de
meses daquele que foi, para você, o primeiro beijo inesquecível.
Nós, as mulheres sem sal, podemos ser
engraçadas, meigas, simpáticas e super de bem com a vida. Mas acabamos sempre
como aquelas mulheres consideradas de transição: somos apenas umas daquelas mulheres
descritas como ‘aquela menina com quem eu fiquei algumas vezes, muito legal e
divertida, mas, sei lá, não era muito interessante’. Esse é nosso pobre
destino.
Nossa única alternativa é sonhar e ainda ter
um pouco de esperança de talvez encontrarmos aquele carinha também sem sal que
enxergue aquela beleza tão escondida por palavrões e palavras sarcásticas na
mesa de bar e na fumaça de cigarro. Não chore por dias se você encontrar aquele
cara lindo que há três meses você está interessada passeando pela rua com uma
loira de parar o trânsito. Olhe para aquele cara na cafeteria com uns quilinhos
a mais, de barba mal feita lendo Tolstoi. Quem sabe ele não pode ser a pimenta
que faltava para sua vida?
O "belo" está longe de ser um conceito fechado. Hermeticamente pronto. Existem sim esteriótipos de beleza, e algumas pessoas são escravas dessa ditadura. A verdade nua e crua é que a beleza está nos olhos de quem vê. Ser temperada ou insossa está diretamente relacionada com o olhar de cada um. A tampa da panela e a metade da laranja só funciona nos filmes... Na vida real a pele, a carcaça tudo vai abaixo um dia. O mais importante é saber exergar por detrás de tudo isso, para enfim, ver o que realmente é belo.